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segunda-feira, 1 de abril de 2024

O vinho uma vez "cristianizado" passou a fazer parte da cultura e da civilização europeias

 


O vinho, a cultura, a vida em sociedade e a religião estão ligados desde a antiguidade.

O vinho foi aliás um dos elementos importantes das práticas rituais e sacrificiais, na Grécia antiga. Em Roma, adorava-se o deus do vinho, Bacchus e organizavam-se festas em seu louvor, chamadas de bacanais.

Com a sacralização do vinho, usado primeiro pelos judeus durante o Shabbat e na Páscoa, e posteriormente durante a Missa católica, ele adquiriu um importante valor simbólico, representando, como afirma São Marcos, no Evangelho, o Sangue de Cristo e o seu sacrifício feito por amor infinito a cada um de nós. Com a passagem da Última Ceia, em que Jesus instituiu a Eucaristia, o vinho tornou-se um dos elementos obrigatórios para a celebração da Santa Missa.  Uma vez “cristianizado”, o vinho passou a fazer parte da cultura e da civilização europeias.

Como todos sabemos, o vinho é uma bebida alcoólica, resultante da fermentação do sumo da uva. As evidências arqueológicas sugerem que as mais antigas produções de vinho tenham ocorrido na atual Geórgia, no Irão, na Turquia e na China entre os anos 8000 e 5000 a.C. Na Europa, nos anos 6500 a.C. já encontramos registos dele em sítios arqueológicos.

O vinho foi sempre tido como um verdadeiro alimento que tomado com moderação fortalece, faz bem à saúde e pode até servir de notável agente terapêutico.

Contudo, o excesso de vinho leva à embriaguez, capaz de mudar completamente o ânimo dos homens, transformando o tímido, em audacioso; o taciturno, em alegre e indiscreto; o poltrão, em corajoso e valente; e os mais dóceis, em perigosos desvairados.

Não nos esqueçamos que a Bíblia narra a história de Noé que foi surpreendido pelo excesso do vinho.

Devido aos deploráveis ​​inconvenientes produzidos com demasiada frequência, pelo abuso que dele foi feito, em todos os tempos, filósofos e os legisladores preocuparam-se em mitigar a devastação que pode ocorrer pelo excesso de vinho e de toda a bebida alcoólica.

Na Lacedemónia, na região do Peloponeso, o legislador Licurgo, segundo Plutarco, embebedou os convidados, para inspirar nos verdadeiros cidadãos o desgosto pelo vinho, e que, em Atenas, o legislador Draco puniu com a morte aqueles que fossem surpreendidos bêbados.

A própria Roma, na sua origem, conheceu tão bem os efeitos perturbadores do vinho, que proibiu as mulheres de o beber, a ponto de Mecenius ter sido absolvido do assassinato da sua esposa, surpreendida a consumi-lo de um barril.

Catão, de maneira graciosa, dizia que a liberdade concedida aos romanos de beijarem os seus parentes, não tinha outra razão, senão a de lhes permitir certificarem-se de que não cheiravam a vinho. No entanto, na ilustre República Romana, o excesso desta bebida passou para a história. Lículo, o general que depois tornou-se cônsul, foi o primeiro a fazer com que o povo provasse o “sumo divino” e o famoso ditador César não teve medo de regar os seus triunfos com os mais famosos e requintados vinhos.

Os povos que Roma sujeitou ao seu domínio não eram mais sóbrios; os alemães, em particular, não brilharam pela temperança e os árabes levaram o vício da embriaguez a tal ponto que Maomé, teve de proibir o uso vinho, inserindo a interdição no Alcorão, como um artigo de fé.

Para nós católicos, também os poderes civil e religioso atacaram os abusos. O Papa Inocêncio III, instituiu penas severas aos clérigos que abusavam do vinho. Na época do Imperador Carlos Magno, era proibido beber nos acampamentos dos soldados. O Rei Francisco I, num edital de 1536, enviou muitos bêbados para a prisão e puniu os incorrigíveis com castigos infames.

Com o passar dos anos, a qualidade dos vinhos tornou-se cada vez melhor e a consciência dos excessos fez com que, atualmente, não haja uma verdadeira refeição familiar, ou entre amigos, sem a presença de uma garrafa de vinho branco ou tinto que, como afirmava o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, faz “a ponte de transição entre a comida e a conversa, ajudando até a intelectualizar a comida”.