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terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Quem manda verdadeiramente no mundo?



Atualmente, em escala global, tem-se a impressão de existir um grupo seleto de pessoas que indica o caminho que a população mundial deve tomar, quais são as ideologias que podemos e devemos aceitar e as que devem ser rejeitadas, como nos devemos vestir, que opiniões e pontos de vista podem ser defensáveis e os que devem ser ridicularizados e postos de lado, mesmo que para isto se recorra a artimanhas e calúnias posteriormente comprovadas.

A este fenómeno radical que “manda” no mundo, muitos chamam de “Revolução”. Ele é tratado como se tivesse uma verdadeira personalidade, dotado de um pensamento e de ação própria, encarregado de cumprir uma missão soberana, de ser o único a poder indicar o caminho correto que deve seguir a humanidade.

O curioso é que este “ser” misterioso tem os seus devotos e fiéis seguidores. Às vezes, apresenta-se como um especialista numa matéria mais ou menos desconhecida do público, de um chefe ou político carismático. E a opinião pública mundial, mesmo que no começo não esteja de acordo, vai aos poucos executando as suas ordens, sacrificando as suas convicções e até interesses próprios, com o ardor de um prosélito ou com a submissão de um escravo. É preciso dizer que a Revolução exerce um certo fascínio sobre toda a humanidade, pois ela é cosmopolita. O cidadão do Oriente ou do Ocidente sente-se atraído por uma nova norma ou “moda”, aparecida ou imposta em qualquer lugar do mundo. E as suas pretensões de doutor, de chefe e de mestre supremo não tem limite, ambiciona uniformizar a humanidade inteira. Ela, em primeiro lugar, adota como suas, algumas individualidades eminentes, doutrinas e sistemas que apareceram em épocas anteriores, como o iluminismo, a Revolução Francesa, a revolução comunista, etc.

O escritor e político francês, Alexis de Tocqueville no seu livro « L’Ancien Regime et la Révolution », ao analisar a Revolução Francesa, dá pistas para compreender o caminho que o mundo está a empreender : “Como a Revolução parecia tender ainda mais para a regeneração da raça humana do que para a reforma da França, ela acendeu uma paixão, inspirou o proselitismo e deu origem à propaganda. Tornou-se uma nova religião, uma religião imperfeita, sem Deus, sem culto e sem altares, mas que, no entanto, inundou toda a terra com os seus soldados, os seus apóstolos e os seus mártires”.

Ao analisarmos esta doutrina nova, que aspira a regenerar o género humano, não sabemos onde ela nos conduzirá. Damo-nos conta de que tem como ponto de partida ideias absolutamente contrárias aos princípios cristãos, que vão do racionalismo ao ateísmo, da liberdade de pensamento à negação do pensamento, da soberania do povo ao direito da permanente insurreição, do socialismo ao anarquismo, do sensualismo ao tribalismo, do culto ao progresso científico ao ecologismo radical do “bom selvagem” de Rousseau. Do ponto de vista religioso, ela persegue os que pretendem viver santamente e segundo o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo; sabe ser alternadamente, tudo de uma vez, progressista e capaz de negar a existência de Deus. Mas o seu principal sucesso nos nossos dias é a promessa de reformas e de liberdade. Desta forma, lisonjeia as mais nobres paixões do ser humano, enquanto, por outro lado, favorece os seus maus instintos, criando “ativistas”, admiradores e asseclas entre aqueles que ela quer escravizar e destruir, enquanto eleva pessoas desordeiras, como se fossem verdadeiros heróis.

Na ordem política foi, dependendo das circunstâncias, liberal ou convencional, parlamentar ou absolutista, burguesa ou proletária, política ou social, conservadora ou anarquista.  Às vezes exalta o povo, às vezes pisa-o, mima os déspotas ou derruba-os, lisonjeia a inteligência humana ou escraviza-a.  Preparar a humanidade para uma nova vida”, tal é o objetivo que ela estabelece para si mesma. Através dela, os homens devem ser independentes de qualquer autoridade, natural ou espiritual; os povos livres de todos os líderes; as inteligências desapegadas de qualquer regra; os corpos desprendidos de qualquer privação para poderem ter todos os tipos de prazer e, finalmente, o ser humano emancipar-se de todos os deveres.

Todas as paixões desordenadas e malignas encontram nela uma legitimação e um apoio: não há crime que não possa ser glorificado; não há malfeitor que não possa ser exaltado; e não é difícil provar, olhando ao nosso redor, que todo o homem que se desvia dar regras estabelecidas pelas nossas sociedades e que se degrada, torna-se inevitavelmente um revolucionário, e que, em troca da sua fé, a Revolução autoriza e recompensa as mais hediondas explosões dos seus vícios.

Embora a “Revolução” atue de modo a mostrar que favorece o mal e não o bem, o seu espírito domina de tal forma os homens dos nossos dias que um grande número deles lhe atribui todos os benefícios da sociedade em que vivem.

Que poder é este, cujo império se tornou indiscutível no século XXI? Por que série de circunstâncias os cristãos passaram a aceitar como facto consumado, necessário e respeitável, um movimento que ataca o cristianismo de todas as formas e em toda a parte com o ódio de um inimigo implacável e pretende até ir modificando aos poucos o Evangelho de Cristo?

Em futuros artigos, procuraremos analisar as origens da “Revolução”, os seus ídolos, o seu método, os exemplos históricos e o seu processo, nos caminhos que traça para a humanidade.