Milhões de católicos já tiveram a oportunidade e o privilégio
de poderem ajoelhar-se e rezar diante da imagem de Nossa Senhora de Paris.
Esta imagem de Nossa Senhora encontrava-se no antigo claustro
dos Cónegos, na Capela Saint-Aignan, na Île de la Cité e foi levada para a
Catedral de Paris para substituir uma das imagens do Pórtico de Nossa Senhora,
destruída pela sanha anticlerical durante o período conturbado da Revolução
Francesa, em 1793.
Em 1855, o famoso arquiteto Viollet-le-Duc - o mesmo que
desenhara a agulha que ardeu completamente e caiu no dia 15 de abril de 2019
- transferiu-a do pórtico para o interior
da Catedral, pois neste pilar sudoeste do transepto existia, desde a Idade
Média, um altar dedicado à Mãe de Deus e nossa Mãe.
Conversão de Paul Claudel
Ali, diante de Nossa Senhora de Paris, Paul Claudel, um dos
grandes poetas e dramaturgos do século XX, converteu-se no dia 25 de dezembro
de 1886, como ele mesmo narra:
“Fui a Notre-Dame de Paris para assistir aos ofícios de Natal.
Tinha começado a escrever, e parecia-me que nas cerimónias católicas,
consideradas com um diletantismo superior, encontraria um excitante apropriado
e a matéria de alguns exercícios decadentes.
“Foi com estas disposições que, conduzido e apertado pela
multidão, assisti, com um prazer medíocre, à missa solene. Depois, não tendo
nada melhor a fazer, voltei para assistir às vésperas. As crianças do coro,
vestidos de branco, e os alunos do Seminário-menor de
Saint-Nicolas-du-Chardonnet, que os ajudavam, estavam se aprontando para
iniciar o canto que mais tarde soube ser o Magnificat.
Estava misturado ao povo, junto do segundo pilar à entrada do
coro, à direita da sacristia. E foi então que se produziu o acontecimento que
domina toda a minha vida. Em um instante, o meu coração foi tocado e acreditei.
Acreditei com tal força, com tal adesão de todo o meu ser, com tão poderosa convicção,
com tal certeza sem deixar lugar a qualquer espécie de dúvida que, depois,
todos os livros, todos os raciocínios, todos os acasos de uma vida agitada, não
puderam abalar-me a fé, nem mesmo, para ser mais preciso, tocá-la de leve que
fosse.
Tive de súbito o forte sentimento da inocência, da eterna
juventude de Deus, uma revelação inefável. Tentando, como o fiz várias vezes,
reconstituir os minutos que se seguiram a este instante extraordinário,
encontro os elementos seguintes que, entretanto, não formam senão um clarão,
uma única arma de que a Providência Divina se servia para atingir e abrir enfim
o coração de uma pobre criança desesperada: “Como aqueles que creem são
felizes! E se fosse verdade? É verdade! Deus existe, Ele está em toda parte, É
alguém, é um Ser tão pessoal como eu. Ele me ama, Ele me chama.
As lágrimas e os soluços vieram… e o canto tão doce do Adeste
fideles, um hino natalino, aumenta ainda mais a minha emoção. Emoção bem doce,
mas a que se misturava um sentimento de espanto o quase de horror. Porque as
minhas convicções filosóficas não estavam destruídas. Deus as havia deixado
desdenhosamente onde estavam, e eu nada via a mudar nelas; a religião católica
me parecia continuar o mesmo tesouro de anedotas absurdas, seus padres e fiéis
me inspiravam a mesma aversão que ia até o ódio e o desgosto. O edifício das
minhas opiniões e dos meus conhecimentos permanecia de pé e nada via de falho
nele. Tinha apenas me retirado. Um novo e terrível ser, com exigências
terríveis para o jovem e o artista que eu era, tinha se revelado e não sabia
como conciliá-lo com coisa alguma que me cercava.
O estado de um homem que fosse arrancado de um golpe de seu
corpo, para ser colocado em um corpo estranho, no meio de um mundo
desconhecido, é a única comparação que posso encontrar para exprimir este
estado de confusão completa. O que mais repugnava as minhas opiniões e os meus
gostos, é que era a verdade e com o que seria necessário que, de bom ou de mau
grado, eu me adaptasse. Ah! Isso não aconteceria sem que tentasse tudo que me
fosse possível para resistir”. (Paul Claudel, Ma conversion, 1913)
Cópia da imagem no Átrio da Catedral
No 12 de junho de 2020, uma cópia da imagem de Nossa Senhora
de Paris foi colocada no Átrio da Catedral, a fim de velar sobre a cidade, a
catedral, os franceses e os católicos de todo o mundo, custodiada pela grande
Imperador do Sacro Império Romano, Carlos Magno, e seus pares, cuja estátua se
encontra a poucos metros.