A tradição cristã recorda no dia 6 de janeiro a adoração dos Rei Magos, onde Nosso Senhor aparece como o Messias, o Enviado de Deus e o Salvador, particularmente dos Gentios, quer dizer dos pagãos.
Os Padres da Igreja tiveram grande alegria em explicar a simbólica história dos Magos: as suas origens, a formação e preparação de seus corações, o apelo que lhes foi feito, a viagem, a sua parada em Jerusalém, a presença da Mãe junto do Menino Deus e os dons depositados aos seus pés. Estes comentários estão, certamente, presentes em todas as memórias. Contentemos de narrar os acontecimentos como o Evangelho nos dá a conhecer.
A oeste da Judeia, para além do vasto deserto da Síria, estende-se o país antigamente habitado pelos Assírios, os Medas e os Persas. A nação dos Medas era constituída pela junção de antigas tribos, incluindo uma que é representada pelos Magos. Isolados pouco a pouco, eles formaram uma casta muito distinta, que tinha como atribuições - tais como os Levitas em Israel – o serviço do culto. Entre eles, existiam intérpretes de sonhos, magos e, nas classes mais elevadas, sábios e estudiosos, homens extremamente cultos. As suas vidas eram austeras e puras, de aparência nobre e autoridade poderosa, como a dos reis.
O culto, onde exerciam o seu ministério, era o dualismo de Zoroastro, que admitia um duplo princípio: o deus do bem Ormuzd e o deus do mal Ahrimã. O primeiro era personificado pela luz, pelo fogo e pelo sol, enquanto o segundo pela obscuridade, pela desordem e pelo mal. Este culto tinha sofrido a influência dos Gregos, dos Partas e depois dos Judeus, exilados na Média. Através destes últimos, os Magos tiveram, sem dúvida, conhecimento dos Livros Sagrados: eles não ignoravam nem as predicações relativas ao Messias, nem a época próxima da sua aparição.
Foi neste terreno assim preparado que deve ter caído o apelo divino. Dignidade e austeridade de vida, ciência e sabedoria, tudo contribuía para que fossem dóceis à ação da graça. Ora a alguns deles, enquanto contemplavam o céu numa noite iluminada pelas estrelas, apareceu um astro novo, cujo brilho extraordinário os atraía. Rapidamente os seus espíritos, conhecedores das Sagradas Escrituras, reconheceram neste astro o mensageiro da boa nova predita por Balaão (“De Jacob vem uma estrela, em Israel se levantou um cetro" Nm 24, 17). Ao mesmo tempo, Deus inspirou-lhes o ardente desejo de ver o novo e poderoso rei, o Messias, anunciado pela estrela. E sem tardar, separando-se de tudo e de todos que amavam, reuniram uma pequena caravana e partiram em direção ao Ocidente, à procura do menino rei que Israel festava já, sem dúvida.
Quantos eram eles? Quais eram os seus nomes? A tradição sobre estes dois pontos é indecisa. Se os Padres da Igreja supõem, em geral, que eram três, é por causa dos três presentes que eles ofereceram. Mas, antigas pinturas, - nas catacumbas, por exemplo – mostram dois, quatro, oito, sempre vestidos com indumentárias persas e com bonés frígios. As tradições sírias e arménias contam até doze. Compreende-se que a mesma incerteza reine em relação aos seus nomes. Somente, num manuscrito do século IX aparecem os nomes que hoje conhecemos e aceitamos: Baltazar, Melchior e Gaspar.
Eles seguiam lentamente, a passos de camelo, a estrela cintilante. O astrónomo alemão Johannes Kepler quis interpreta-la como a conjugação de Júpiter e Saturno. Mas, não conseguiu explicar como ela parecia ter brilhado sobre um só país, ter desaparecido subitamente e reaparecido em Jerusalém, ter seguido uma trajetória de Norte a Sul, em direção a Belém e ter parado em cima do lugar onde repousava o Divino Menino Jesus. Terá sido um meteoro milagroso, um cometa? Nada que o poder de Deus não pudesse realizar!
Pouco se sabe sobre o momento da partida ou da duração da viagem. Mas um dado é certo: Os reis magos tiveram de percorrer cerca de dois mil quilómetros. Sabe-se que os Orientais, por causa dos seus meios de transporte, viajavam com vagar. Estima-se que eles chegaram três ou doze meses depois do nascimento de Nosso Senhor.
Enquanto os santos viajantes continuavam a sua marcha, muitos eventos foram ocorrendo: Jesus nasce no estábulo; é circuncisado na sinagoga de Belém, teria juntamente com Nossa Senhora e São José, sem dúvida, sido acolhidos por devotos amigos em habitações menos miseráveis que a gruta; Nossa Senhora teria sido, quarenta dias depois do nascimento, apresentada ao Templo; em seguida – podemos conjeturar, colocando lado a lado os textos de São Lucas e de São Mateus – a Sagrada Família, indecisa em relação ao futuro, viajando até Nazaré, antes de organizar um estadia, pelo menos de alguns dias, na cidade de David. Talvez parecesse a São José e a Nossa Senhora que deveria ser ali o lugar indicado para educar aquele que era o descendente do grande rei.
Entretanto, o movimento de fervor que se tinha levantado em volta da creche acalmou-se, não chegando sequer a propagar-se até Jerusalém. De repente, uma celeuma levanta-se entre os habitantes de Belém: uma majestosa caravana de estrangeiros, que imaginavam vir de longe, pára entre eles e pede para ver o Messias.
Os Magos seguiram viagem aprazível até Jerusalém. De repente, a sua guia celeste desapareceu. Teria sido nesta cidade o nascimento da criança profetizada? Eles dirigem-se, naturalmente, para venera-lo no palácio real. Mas ali o espanto misturou-se com fúria: Herodes acredita num complô para destrona-lo. O seu ciúme preocupado inspira a sua duplicidade, quando soube através de sábios da capital da profecia de Miqueias, que designava Belém como o lugar do nascimento de seu futuro rival, pedindo-lhes: “Ide e adorai o menino e voltai a dizer-me qual a sua morada: eu também devo e quero apresentar-lhe as minhas homenagens”.
Eles retomaram a viagem e - que alegria! – logo à saída de Jerusalém, voltam a ver a estrela, rasgando o Céu, precedendo-os e convidando-os a seguirem-na. Subitamente, ela pára: a modesta habitação que ela designava, era bem a morada de um rei? Mas depois da supressa a fé vence. Eles entram. O que viram era simples e pequeno. Os seus olhos divinamente abertos não se enganavam. Aquele Menino, no braço de sua Mãe – onde iriam encontrar Jesus, senão sobre o coração de Maria? – não era somente um rei, nem um deus, mas Deus. E prosternando-se, adoraram-nO.
A santidade das suas vidas, a generosidade na hora da partida, a fidelidade constante e corajosa durante as fadigas da viagem e nas horas de prova, faz com que eles recebam as suas recompensas na iluminação dos seus espíritos e no êxtase dos seus corações.
Com que alegria eles abriam os seus presentes! Com que prodigalidade colocaram aos pés de Jesus o ouro, o incenso e a mirra, os presentes habituais e tão simbólicos! Com que desprendimento eles se fizeram pobres para Deus, que finalmente conheciam, amavam e adoravam!
Em seguida - depois de quantos dias? Passados tão rapidamente! – precisam partir. Eles teriam ficado, sem dúvida, se a graça que os levou até ali não os tivesse docemente, mas fortemente, solicitado o retorno. Eles partiram. Fiéis às suas palavras, poderiam ter voltado a Jerusalém e ter informado Herodes. Mas um anjo advertiu-os e, mais uma vez, dóceis às manifestações sobrenaturais, voltam aos seus países por um outro caminho.
Poderíamos acreditar que eles não tenham vivido doravante das suas lembranças? Delas viveram, certamente, e propagaram-nas, preparando as suas almas e a dos seus compatriotas para a boa nova que um dia lhes ia ser anunciada. Este dia, segundo a tradição, eles também tiveram a alegria de ver. São Tomé teria vindo, quando eles já estavam na extrema velhice, derramar sobre as suas frontes – e sobre muitas outras dos habitantes dos seus países – a água do batismo. Talvez tenham até ajudado o santo apóstolo a propagar a fé em Jesus Cristo. O martirológio de Colónia diz que todos os três foram honrados com o episcopado. Outros, contam que eles morreram mártires.
Pelo menos, nas igrejas orientais, adotando os nomes da crença popular, eles foram inscritos no Martirológio: Gaspar no dia 1 de janeiro, Melchior no dia 6 e Baltazar, finalmente, no dia 11 do mesmo mês.
As relíquias dos Reis Magos foram encontradas na Pérsia por Santa Helena, mãe do imperador Constantino. Durante muito tempo, elas foram veneradas em Constantinopla – atual Istambul. Mas o imperador Anastácio dou-as, no século V, ao bispo Eustórgio de Milão. Quando Frederico Barba-Ruiva tomou esta cidade em 1163, despojou-a dos restos preciosos, levados para Colónia, onde até hoje se encontram.