Para operar grandes feitos, Deus coloca na alma grandes
virtudes. E estas são inspiradas pela caridade que pode ser chamada de rainha das
virtudes.
São Tomás de Aquino, sobre este ponto primordial, explica que o
homem pode adquirir certas virtudes. Contudo, quando a caridade entra na alma,
estas virtudes são instantaneamente transformadas e maravilhosamente aumentadas
ou, explicado de outra maneira, Deus comuta-as por outras virtudes que têm atributos
e características superiores, proporcionadas com o fim sobrenatural do homem.
Por outro lado, o homem privado da caridade, pode ter certa prudência,
justiça, força, temperança e talvez até uma certa religião, aquela virtude que
nos faz render a Deus a adoração que Lhe é devida por ser a fonte de todo o ser
e criador de todas as coisas boas. Mas, quando
o Espírito de Deus infunde na alma de uma pessoa a santa caridade, ela passa a possuir
uma outra prudência, outra justiça, outra força, outra temperança e outra
religião. E estas últimas virtudes merecem, somente elas e de maneira absoluta,
a qualificação de verdadeiras virtudes, pois abarcam um objeto bem mais amplo e
de forma integral (Suma Teológica, Prima sec., q. 63 – Id. Ibid., q. 45, art. 2
e 3).
Conclui-se, portanto, que há uma distância enorme entre a
virtude puramente humana e a virtude cristã.
São Francisco de Sales exaltou e chamou de pequenas virtudes, aquelas
que, aos olhos dos homens, o objeto é simples, como o suportar pacientemente
uma doença ou um defeito do próximo, por exemplo. Mas, não nos enganemos! Estas
pequenas virtudes não são pequenas. Elas têm a sua grandeza e até o seu heroísmo,
pois são frutos da caridade.
Ao se ler a explicação de São Tomás, temos elementos para perceber
porque as grandes virtudes dos nossos antepassados já não são praticadas. A
caridade deixou de ser a alma das nossas virtudes. O egoísmo e o interesse
próprio passaram a ser os eixos da vida da grande maioria dos homens de hoje e
o impulsionador dos nossos atos. Muitos católicos contentam-se com uma virtude
muito humana, cómoda e laicizada, mas têm medo da virtude cristã, que é inseparável
do sacrifício, do caminho que deve percorrer o bom cristão e todo aquele que
procura as vias da santidade.
O curioso é que já não nos comparamos com os bons, com os santos,
os virtuosos, mas com os ímpios e os maus.
Quem compreende, atualmente, a generosidade de uma vida toda
dedicada a Deus, despojada de si mesmo?
Quantas vezes não ouvimos comentários dos nossos familiares e amigos
ao saberem que um parente seguiu a vocação religiosa ou sacerdotal: “Coitado!
Não conseguiu se encaixar num emprego melhor ou não descobriu um caminho que
desse mais prestígio!”, ignorando a excelência da entrega total a Deus?!
Que estreiteza de ideias, que visão curta!
Realmente, as nossas virtudes são pequenas, porque falta o
sobrenatural, porque o verdadeiro amor de Deus não as impulsiona.
Talvez este egoísmo e esta vontade de fazer o bem, sem que
Deus possa estar presente, como se pudéssemos fazer tudo por nós mesmos, seja o
primeiro dos maus da sociedade atual e até do nosso caminhar nesta vida. Já
pensou sobre isso? Está nas suas mãos mudar de rumo!
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