Quem despreza totalmente as seduções da vida terrena e rejeita toda a glória mundana, sentir-se-á também movido a renunciar à própria vida. Renunciar à propria vida significa não buscar nunca a própria vontade, mas seguir sempre a vontade de Deus como sua única norma segura, e depois nada possuir que não seja necessário ou comum. Quem assim procede está livre e disponível para cumprir o que lhe mandarem os superiores, realizando-o prontamente, com alegria e esperança, como bom servo de Cristo, redimido para o bem comum de seus irmãos. Isto é o que quer também o Senhor quando diz: “Quem quiser ser o primeiro e o maior entre vós, seja o último de todos e o servo de todos”.
É necessário, porém, que tal servidão entre os homens seja gratuita, e aquele que exerce há-de submeter-se a todos e servir os seus irmãos como se fosse devedor de todos e de cada um deles. Na verdade, quem está constituído em autoridade deve esforçar-se por trabalhar mais que os outros pelo bem comum e ser para os súbditos um exemplo de humildade e uma imagem de serviço, considerando os seus irmãos como um tesouro que lhe foi confiado por Deus.
Por isso, os superiores devem comportar-se com a solicitude de bons educadores, como quem trata crianças de tenra idade que seus pais lhe confiaram.
Se vos sentirdes assim vinculados uns aos outros, tanto os súbditos como os mestres, aqueles obedecendo com satisfacção às ordens e preceitos, estes promovendo com alegria os irmãos ao estado de perfeição, se assim procurais honrar-vos mutuamente, então a vossa vida na terra será semelhante à dos Anjos no Céu.
(São Gregório de Nissa, sobre a vida cristã, PG 46, 297-298)
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