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quinta-feira, 12 de abril de 2018

Todos devemos aspirar à santidade

O Senhor, criando o universo, ordenou às árvores que produzissem frutos, cada uma segundo a sua espécie. Do mesmo modo, Ele ordenou a todos os fiéis, que são as plantas vivas da sua Igreja, que dessem dignos frutos de piedade, cada um segundo o seu estado e vocação.
Diversas são as regras que devem seguir as pessoas da sociedade, os operários e os plebeus, a mulher casada, a solteira e a viúva. A prática da devoção tem que atender à nossa saúde, às nossas ocupações, e deveres particulares.
Na verdade, Filotéia, seria porventura louvável se um bispo fosse viver t
ao solitário como um cartuxo? Se pessoas casadas pensassem tão pouco em ajuntar para si um pecúlio, como os capuchinhos? Se um operário frequentasse tanto a igreja como um religioso o coro? Se um religioso se entregasse tanto às obras de caridade como um bispo? Não seria ridícula uma tal devoção, extravagante e insuportável?
Entretanto, é o que se nota muitas vezes e o mundo, que não distingue nem quer distinguir a devoção verdadeira da imprudência daqueles que a praticam desse modo excêntrico, censura e vitupera a devoção, sem nenhum razão justa e real.
Não, Filotéia, a verdadeira devoção nada destrói. Ao contrário, tudo aperfeiçoa. Por isso, caso uma devoção impeça os legítimos deveres da vocação, isso mesmo denota que não é uma verdadeira devoção.
A abelha, diz Aristóteles, tira o mel das flores sem lhes causar dano algum, deixando-as intactas e frescas como encontrou. A devoção verdadeira ainda faz mais, porque não só em nada estorva o cumprimento dos deveres dos diversos estados e ocupações da vida, mas também os torna mais meritosos e confere-lhes o mais lindo ornamento. Diz-se que, lançando uma pedra preciosa no mel, esta torna-se mais brilhante e viçosa, sem perder a sua cor natural. Assim, na família em que reina a devoção tudo melhora e se torna agradável: diminuem os cuidados pelo sustento da família, o amor conjugal é mais sincero, mais fiel o serviço do Príncipe, e mais suaves e eficazes os negócios e ocupações.
É um erro, senão até mesmo uma heresia, querer excluir a vida devota dos quartéis de soldados, das oficinas dos operários, dos palácios dos príncipes, do lar das pessoas casadas. Confesso, porém, caríssima Filotéia, que a devoção puramente contemplativa, monástica e religiosa de modo algum pode ser praticada em tais ocupações ou condições. Mas existem muitas outras devoções adequadas a aperfeiçoar os que as seguem no estado secular.
Já no Antigo Testamento deparam-se nos insignes exemplos da vida devota no lar doméstico; assim Abraão, Isaac, Jacob, David, Job, Tobias, Sara, Rebeca, Judite, e na nossa era, São José de Copertino, Santa Lídia e São Crispim levaram uma vida devota nos seus trabalhos manuais, Santa Ana, Santa Marta, Santa Mónica, Santa Áquila e Santa Prisca, nos trabalhos da casa, o Centurião Cornélio, São Sebastião e São Maurício, no exército, o grande Constantino, Santa Helena, São Luís, Santo Amadeu e Santo Eduardo, nos seus tronos. Aconteceu, de facto, que muitos perderam a perfeição nas solidões que são tão propícias à santidade e houve muitos que a conservaram no meio do bulício do mundo, por mais prejudicial que lhe fosse.
“Ló – diz São Gregório – não guardou na solidão aquela castidade admirável que tinha conservado no meio de uma cidade corrompida”.
Portanto, onde quer que estejamos, devemos e podemos aspirar à vida perfeita.
                                       São Francisco de Sales, Introdução à Vida Devota, Part I, cap. 3
Apesar de todas as nossas infidelidades, mantenhamos sempre vivo, com a graça de Deus, o ardente desejo e regra de vida expressos por Santa Teresinha do Menino Jesus: “apesar da minha pequenez, posso aspirar à santidade”.  

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