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terça-feira, 14 de outubro de 2025

Rito penitencial e de reparação quando uma igreja é profanada



Quando uma igreja é profanada, qual é o rito penitencial e de reparação?

No Cerimonial dos Bispos, n.º 1070 a 1092, encontramos a resposta:

PRECES PÚBLICAS A FAZER QUANDO UMA IGREJA TIVER SIDO PROFANADA 

Os delitos cometidos numa igreja atingem e prejudicam em certa medida toda a comunidade dos irmãos que crêem em Cristo, dos quais o edifício sagrado é sinal e imagem. Devem considerar-se tais, não só os crimes e delitos que constituem ofensa grave aos sagrados mistérios, mormente às espécies eucarísticas, e se cometem em desprezo da Igreja, mas também os que ofendem gravemente a dignidade do homem e da sociedade humana. A Igreja é violada com ações gravemente injuriosas, nela praticadas com escândalo dos fiéis, e, de tal modo graves e contrárias à santidade do lugar, que, a juízo do Ordinário do lugar, não é lícito exercer nela o culto, enquanto a injúria não for reparada por meio de rito penitencial".

A injúria feita à igreja deve ser reparada quanto antes mediante rito penitencial. Enquanto não se efetuar este rito, não se pode celebrar nela a Eucaristia nem quaisquer outros sacramentos ou ritos litúrgicos. Entretanto, através da pregação da Palavra de Deus e exercícios de piedade, convém preparar os fiéis para o rito penitencial, e, mais do que isso, renová-los interiormente por meio da celebração do sacramento da Penitência. Em sinal de penitência, o altar deve estar despido, removendo dele todos os sinais que habitualmente exprimem júbilo e alegria: luzes acesas, flores e outras coisas do gênero. 

Convém que o rito penitencial seja presidido pelo Bispo da diocese, para mostrar que não é só a comunidade local, mas toda a Igreja da diocese, que se associa ao rito e está disposta à conversão e á penitência. Conforme os casos, o Bispo, juntamente com o reitor da igreja da comunidade local, determinará se deve haver celebração do Sacrifício eucarístico ou celebração da Palavra de Deus. 

O rito penitencial pode celebrar-se num dia qualquer, exceto no Tríduo pascal e nos domingos e solenidades. Nada obsta, porém, e até pode convir, para não prejudicar espiritualmente os fiéis, que o rito penitencial seja celebrado na véspera de domingo ou solenidades. 

Para a celebração do rito penitencial, preparar-se-á: 

 a) Ritual Romano, Lecionário; 

 b) bacia da água benta com o aspersório; 

 c) turíbulo com a naveta do incenso e colher; 

 d) cruz processional e tochas para os ministros; 

 e) toalhas, velas e as demais peças necessárias para ornamentação do altar; 

 f) tudo o que se requer para a celebração da Missa, no caso de se celebrar. 

No rito penitencial, usam-se paramentos roxos ou de cor penitencial, segundo os costumes locais, salvo se for celebrada Missa que exija paramentos doutra cor. 

Preparar-se-á: 

− para o Bispo: alva, cruz peitoral, estola, pluvial ou casula, mitra, báculo pastoral; 

 − para os concelebrantes: paramentos para a Missa; 

 − para os diáconos: alvas, estolas e, eventualmente, dalmáticas; 

 − para os restantes ministros: alvas ou outras vestes devidamente aprovadas.

O rito de reparação por uma igreja profanada, tal como descrito no Cerimonial dos Bispos, representa uma das formas mais solenes de súplica pública na liturgia católica. Quando numa igreja ocorrem atos "gravemente injuriosos" — como ofensas aos sagrados mistérios, gestos blasfemos ou atos contra a dignidade humana — o local perde a sua adequação ao culto até ser conciliado com um rito penitencial.

O Cerimonial estabelece que o Bispo diocesano preside à celebração, para exprimir a participação de toda a Igreja local na dor e na reparação. O rito, geralmente ligado à Celebração Eucarística, inicia-se com uma procissão penitencial da igreja mais próxima ou de um local adequado até à igreja profanada. Uma vez no interior, o Bispo asperge o Altar e as paredes com água benta, símbolo de purificação. Segue-se a Liturgia da Palavra, com leituras que evocam a conversão e o perdão, e a Santa Missa, em que o altar é rededicado à presença real do Senhor.

O rito oferece uma variedade de oportunidades pastorais: a possibilidade de envolver toda a comunidade diocesana, de unir a reparação litúrgica à conversão pessoal dos fiéis através da pregação e da confissão, e de reconstruir a comunhão eclesial ferida pelo pecado. Deste modo, o rito não é meramente um acto jurídico ou formal, mas torna-se um gesto eclesial de purificação, penitência e renascimento, no qual a comunidade reconhece a sua fragilidade e renova a sua fé no mistério de Cristo que «renova todas as coisas».

Santa Teresa de Ávila e a Contra-Reforma


 

Celebramos, no dia 15 de outubro, Santa Teresa de Jesus, Religiosa, doutora da Igreja e Fundadora da Ordem das Carmelitas Descalças.


No primeiro capítulo de sua obra "O caminho de perfeição", Teresa explica os motivos que a levaram a estabelecer uma observância tão rigorosa no mosteiro carmelita de São José de Ávila:

“Tendo conhecimento dos desastres em França, da devastação que aí faziam os heréticos, e como essa infeliz seita [protestantes] aí se fortificava dia a dia, fui por isso tão vivamente tocada que, como se eu pudesse alguma coisa, ou se eu fosse alguma coisa, chorava em presença de Deus e implorava que remediasse tão grande mal. Parecia-me que eu teria dado mil vidas para salvar um só do grande número de almas que se perdiam nesse reino. Mas vendo que era somente uma mulher e ainda tão má e totalmente incapaz de prestar a Deus o serviço que eu desejava, acreditei, como acredito ainda que, pois como há tantos inimigos e tão pouco amigos, eu devia trabalhar o quanto pudesse para fazer com que esses últimos fossem bons.

“Assim, tomei a resolução de fazer o que dependia de mim para praticar os conselhos evangélicos com maior perfeição que pudesse, e procurar levar esse pequeno número de religiosas que estão aqui, a fazer a mesma coisa. Nesse sentido, confiei-me à bondade de Deus, que não deixa jamais de assistir àqueles que a tudo renunciam por seu amor.

“Esperei que essas boas jovens, sendo como o meu desejo as figurava, os meus defeitos seriam cobertos pelas suas virtudes e poderíamos contentar a Deus em alguma coisa, ocupando-nos todas em rezar pelos pregadores, pelos defensores da Igreja e pelos homens sábios que sustentam discussões. Pois assim faríamos o que estava ao nosso alcance para socorrer p nosso Mestre, que esses traidores, que Lhe devem tantos benefícios, tratam com tanta indignidade, que parecem querer crucificá-Lo ainda e não deixar lugar algum onde Ele pudesse repousar a cabeça”.

A reflexão de Santa Teresa é lindíssima. Era uma simples religiosa de um convento carmelita, não propriamente corrupto, mas relaxado e ela mesmo tendo passado muito tempo na tibieza e na mediocridade no amor de Deus. Ouviu falar nas devastações que o protestantismo estava fazendo na França, naquele tempo, muito grandes. Os protestantes tinham conquistado completamente um pequeno Reino que havia no Sul, que era o Reino de Navarra, cuja rainha Jeanne, e mais tarde o filho dela, o rei Henrique, futuro Henrique IV da França, eram protestantes militantes.

Por outro lado, um terço da França tinha-se tornado protestante, cometendo os seus adeptos toda a espécie de blasfémias, opressões às igrejas, depredações pavorosas, em suma, um verdadeiro incêndio religioso na França.

A notícia desse facto chega à Espanha e ao conhecimento dessa freira então um tanto medíocre. E aí a graça de Deus toca a sua alma e compreende o imenso desastre que isso representava. E em vez de ficar com ideias nacionalistas idiotas, pensando: Aquilo é a França, eu estou na Espanha e não tenho nada que ver com o que se passa lá, compreendendo a universalidade da religião Católica, a universalidade da Redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo, entendeu também que isso era um verdadeiro desastre para o mundo católico inteiro. Então pôs-se a chorar copiosamente e daí veio a ideia de sua conversão.

Como isto se deu? Ela o expõe apenas muito de passagem aqui, mas em outros trechos isso fica mais claro.

Seu raciocínio foi: Eu sou uma simples religiosa e não posso, eu, como mulher, fazer nada. A não ser o seguinte: os amigos de Deus são poucos e tíbios. Os inimigos de Deus são muitos e ardorosos. Eu devo, portanto, rezar, imolar-me, renunciar a tudo para que os amigos de Deus se tornem mais fortes e sejam capazes de fazer face aos inimigos de Deus. Então, afervorar os católicos, catolicizar os católicos era o meio de levar o inimigo à derrota.

Então, para consegui-lo, era preciso tomar algumas freiras que estavam ao seu alcance e fazer com que elas freiras se imolassem, rezassem; ela mesma também passar da mediocridade para o fervor, para conseguir que os pregadores, os doutores, os que lutavam pelas armas católicas se tornassem capazes de derrotar os protestantes. Então, dessa ideia veio a reforma do Carmelo. E naturalmente graças incontáveis que se derramaram sobre a França em consequência das orações das carmelitas.

Os senhores estão vendo por aí que se trata de uma ideia altamente teológica e altamente sapiencial que inspirou tal movimento. A ideia da Comunhão dos santos, do valor preponderante da oração e do sacrifício para a Igreja vencer as suas grandes batalhas; a ideia de catolicizar os católicos como meio de deter o furor e vencer os que não são católicos. E, por fim, a ideia de uma reforma de uma Ordem religiosa especialmente para isso. É uma concatenação de ideias esplêndidas que se ligam umas às outras e que têm como desfecho a reforma da Ordem do Carmo.

É isso que explica aos senhores esse fato curioso: Santa Teresa de Jesus, apenas o que fez foi reformar a Ordem do Carmo. O Carmelo é uma Ordem de reclusas e estabelecer a reforma dos Carmelitas descalços, que não são reclusos. A obra em si, humanamente falando, não é tão extraordinária. O que representa triplicar o número de conventos de religiosas trancadas no seu convento? Multiplicar o número de padres, vamos dizer, de padres fervorosos, só isso a mais?

Entretanto, não há História da Igreja um pouco cuidadosa, que não mencione entre os principais fatos da Contrarreforma, a reforma teresiana do Carmelo. Porquê? Porque ela teve um efeito extraordinário em toda a Cristandade.

O fervor aumentou em toda a Igreja; em torno das carmelitas desencadeou-se um movimento de afervoramento, movimento este que foi dos maiores, mais vigorosos da Contrarreforma. Os Padres carmelitas também atuaram da mesma maneira. Quer dizer, uma ação que era maior do que os meios humanos, empreendeu uma expansão de um espírito, de uma mentalidade, de uma atitude de alma, que tinha como consequência um afervoramento geral dos católicos, e fazendo, portanto, da obra de Santa Teresa uma das grandes realizações da Contrarreforma.

O curioso é que isso se explica muito mais pelo lado sobrenatural do que pelo natural. E nos mostra, por outro lado, quanta razão temos ao dar prioridade à vida interior sobre a vida ativa; em catolicizar os católicos, sobre a preocupação de conquistar não católicos para a Igreja; a ideia de que a oração e o sofrimento valem mais, na luta contra os adversários, do que a ação; o desejo, entretanto, ardente, da ação e da ação levada até suas últimas audácias, que caracterizavam o espírito de Santa Teresa de Jesus. Tudo faz com que percebamos, em sua grande autoridade, quantas conceções nossas são verdadeiras e quanto, portanto, nós a ela devemos ser fiéis.

É preciso dizer que esse extravasamento do zelo de Santa Teresa de Jesus para a França produziu a implantação da reforma do Carmelo também lá, feita por uma das suas discípulas. Daí decorreu, no “doux pays de France”, um florescimento carmelitano, o qual por sua vez produziu como flor mais recente e estupenda, flor igual às maiores flores – e exatamente disse a “mais recente” evitando a palavra “última”, porque foi o ponto de partida de novos florescimentos – Santa Teresinha do Menino Jesus.

Devemos ver, portanto, em Santa Teresinha do Menino Jesus mais uma expansão desse zelo pela França de Santa Teresa, a Grande, que produziu depois o nascer, na França e depois fora dela, de toda a imensa família das pequenas almas estimuladas, suscitadas e – eu diria – espiritualmente dirigidas por Santa Teresinha do Menino Jesus.

Plinio Corrêa de Oliveira